Do Bullying ao Cyberbullying

Uma nova forma de violência que tem se destacado entre crianças, jovens e, muitas vezes, até em adultos em seus ambientes de trabalho, o bullying vem chamando a atenção pelo desencadeamento de episódios como os atentados de jovens em escolas norte-americanas culminando em muitas vítimas. Ações persistentes e intencionais sobre indivíduos com o objetivo de discriminá-los e humilhá-los, podem causar de danos psicológicos graves da depressão a suicídios. Não obstante, ainda observa-se a extensão destes comportamentos nocivos nos meios tecnológicos e a disseminação do que agora os autores passam a chamar de cyberbullying.

Palavras-chave: Bullying. Cyberbullying. Crianças. Jovens. Adultos. Alunos. Escola. Terapeuta.

Bullying é definido por “um agressivo, ato intencional ou comportamento que é conduzido por um grupo ou um indivíduo repetidamente e durante o tempo contra uma vítima que não consegue facilmente defender a si mesma” (SLONJE; SMITH, 2008, p. 147). O bullying é tido como uma “forma de afirmação de poder interpessoal através da agressão. (LOPES NETO, 2005, p. 165).

Ele compreende todas as ações agressivas, intencionais e contínuas que ocorrem sem motivação evidente, sendo adotadas por um ou mais indivíduos. Pode ser distribuído em diversas categorias sendo as mais comuns: física, verbal, indireta ou relacional. As agressões físicas podem envolver violência física e até se apropriar dos bens da vítima. Já os atos verbais envolvem a disseminação de apelidos pejorativos, comentários falsos, racistas e homofóbicos.

O bullying vem se disseminando nos mais diversos ambientes, geralmente estando associados a lugares coletivos tais como escolas e locais de trabalho, onde indivíduos se agrupam com o intuito de rebaixar um determinado sujeito. Pode-se dizer que nas escolas a violência física é a mais observada (ANTUNES; ZUIN, 2008).

Nos ambientes de trabalho, é disseminada a violência moral, denominada aqui como assédio moral, que o objetivo maior é o de desqualificar ou desmoralizar de maneira repetida e excessiva, por meio de ataques vingativos, cruéis e maliciosos que objetivam rebaixar um indivíduo ou um grupo de trabalhadores (PALÁCIOS; REGO, 2006).

A partir dos anos 1990, estudiosos sobre o tema, como Björkqvist e Crick, entre outros, identificaram o bullying por meio de ações indiretas, que eram impelidas por uma terceira parte, e as relacionais, que visavam a minar as relações da pessoa com seus pares (SLONJE; SMITH, 2007). Podemos, ainda, classificar o bullying em duas categorias, conforme Lopes Neto (2005, p. 166):

Direta – quando o ataque às vítimas é causado de forma direta com a utilização de apelidos, agressões físicas, ameaças, roubos, ofensas verbais ou expressões e gestos que geram mal-estar aos envolvidos;

Indireta – atitudes de indiferença, isolamento, difamação e negação aos desejos, sendo mais adotados pelas meninas/mulheres.

Há ainda de considerarmos o bullying pela ótica de qu bullying em o pratica. De acordo com Lopes Neto (2005) e Antunes e Zuin (2008), o objetivo do bullying no autor que o pratica é a de realização da afirmação de poder interpessoal por meio da agressão e o desejo de se afiliar junto aos seus pares. Outros fatores também são tidos como desencadeadores tais como os socioeconômicos e os culturais, além do temperamento do indivíduo. Para Antunes e Zuin (2008) existe também uma correlação com o ambiente familiar de ambiente emocional frio e uma relação negativa com os pais.

Com o advento da tecnologia, no entanto, surge uma nova modalidade de bullying na qual a agressão ocorre por meio dos dispositivos modernos tecnológicos, mais especificamente celulares e pela internet, o cyberbullying (SLONJE; SMITH, 2008). Diferentemente do bullying tradicional, onde o sujeito, quando longe do ambiente nocivo se sente novamente protegido, o cyberbullying abarca o universo plural e virtual da internet e, com isto, o sujeito continua a receber mensagens de texto ou e-mails e também pelas redes sociais. A audiência abrangente, que  pode ser atingida por meio destes meios, difere significativamente do bullying tradicional, que fica restrito a pequenos grupos, podendo, potencialmente, causar maiores prejuízos.

O cyberbullying aparenta não fazer distinção entre gêneros, não havendo indicação de prevalência entre um ou outro (SLONJE; SMITH, 2008).

As pesquisas apontam que aqueles que eram antes vítimas do bullying tradicional passam a utilizar os meios tecnológicos para se “vingarem” daqueles que antes os causaram algum dano (SLONJE; SMITH, 2008). Podemos, desta forma, pressupor que o ambiente virtual, devido em grande parte a sua possibilidade de anonimidade, ofereça um espaço de expressão para que pessoas antes oprimidas passem a ser também opressoras.

Daqueles que são considerados autores do bullying, 20% deles também podem ser considerados como alvos em algum momento de suas vidas, denominados assim alvos/autores. Baixa autoestima e atitudes agressivas e provocativas são indicativos de crianças e adolescentes com possíveis alterações psicológicas, trazendo prováveis razões à prática do bullying. Depressivos, inseguros, inoportunos, estes sujeitos buscam os colegas para mascararem suas próprias limitações (LOPES NETO, 2005).

O cyberbullying destacou-se num ambiente cada vez menos tolerante às agressões físicas, transcendendo as dimensões de espaço físico e do tempo, sustentando de forma infinita a vitimização no espaço virtual. Ele não se estabelece pela força, utiliza-se de outras formas de poder, numa associação a outras competências e as vantagens do ambiente virtual, agregando novas facetas ao perfil dos agressores (LOPES NETO, 2005).

Devido aos diversos fatores envolvidos, dos reflexos naqueles que são o alvo das ações do bullying, as razões que levam os autores a sustentarem tais comportamentos, o papel do terapeuta mostra-se dinâmico e plural. Identificar fatores de risco, realizar o aconselhamento familiar e nas escolas e implantar programas antibullying em escolas e locais de trabalho mostram-se fundamentais para uma mudança do paradigma (LOPES NETO, 2005). É preciso uma intervenção nas escolas com a conscientização do problema e com a percepção e da aceitação de que bullying não se trata de uma brincadeira entre crianças e jovens, mas que, acima de tudo, é uma violência que pode causar dores físicas e emocionais.

Cabe ao terapeuta identificar as variantes da identidade do sujeito praticante do bullying que:

[…] assume especificidades diferenciais aos vários níveis de funcionamento do sistema desde a estrutura da personalidade/individualidade até o nível do comportamento. A existência de graus significativos de difusidade, conflitabilidade, desadequalibilidade, nas identidades da s pessoas, como personalidades individuais, obrigatoriamente se repercute negativamente no sistema psíquico aos vários níveis, manifestando-se ao nível comportamental por perturbações da conduta (PEREIRA, 2011, p. 82).

Desta forma, compreendemos a atuação do psicólogo quanto à questão do bullying como plural, atuando igualmente com agressores e agredidos e também na prevenção, intervindo nos espaços onde o bullying é identificado.

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